Friday, June 08, 2007

STOVE, DARWIN E POPPER

David Stove against Darwin and Popper

O ARTIGO INTITULADO The Perils of Showmanship já foi publicado o ano passado neste site. Agora está publicado de novo em Portolani Special. Embora o filósofo australiano é pouco conhecido em Portugal, julgo que o meu texto pode ter algum interesse em duas áreas. Primeiro, no que diz respeito ao darwinismo. Segundo, com referència a algumas ideias de Karl Popper.

Na recente discussão (bastante preliminar, aliás) sobre a epistemologia evolucionária de Hayek tornou-se evidente que existe alguma confusão sobre certos aspectos do darwinismo. Não é de admirar. Se um eminente filósofo como Stove e os seus seguidores não conseguiram entender os ensinamentos de Darwin, é natural que assim seja entre nós.

Quanto a Popper, detestado por Stove, é ainda mais compreensível que ele continua desconhecido ou mal entendido em Portugal.

Lembro-me muito bem de um dia em 1975 na praia de Azarujinha quando estava a reler um livro de Popper, A Pobreza do Historicismo. Apareceu um amigo acompanhado de um desconhecido que ele apresentou como professor universitário de Economia. Sentaram-se e o economista pegou no meu livro. Folhou e logo jogou para a areia. Com um ar superior disse: Não o conheço. Pouco tempo depois ele foi um dos vários senhores distintos que ocuparam o posto de Ministro das Finanças.

Hoje a situação não é a mesma, graças em particular a João Carlos Espada. Em certos meios Popper até se virou moda e o próprio Mário Soares chegou a gabar-se de ser seu amigo.

Nada disto é de surpreender. Durante o Estado Novo, o obscurantismo nas ciências humanas ’oficiosas’ era flagrante. A maior parte das chamadas elites intelectuais era dominada por influências marxistas, sobretudo francesas. E em França ninguém tinha ouvido falar em Popper. Eu tinha razão para entender a situação cá. Eu também até 1966 não conhecia o nome de Popper. Hoje penso que se tivesse tido a ocasião de ler A Sociedade Aberta quando foi publicada pela primeira vez, tinha sido poupada um longo e difícil caminho para a libertação do jugo intelectual do marxismo.

Infelizmente o que acontece muito quando encontramos um pensador que nos abre os olhos é que ficamos deslumbrados e corremos o risco de substituir um guru por outro.

Na minha critica a David Stove, tentei dar um resumo do que considero os ensinamentos mais positivos de Popper. Mas não deixei de referir umas reservas.

Igualmente no que se refere ao darwinismo. Hoje, na minha avançada idade aprendi o valor do eclectismo. Estou convencida que o verdadeiro liberal não pode ser um dogmático ou um doutrinário. Queremos a liberdade para que haja verdadeiro debate e open-mindedness. Um espírito fechado é tudo menos liberal.