OS INSISTENTES ECOS DA HISTÓRIA
(Via O Insurgente)
Filisteus e Israel
The contemporary fight against anti-semitism
O Times Online publicou no dia 14 deste mês um artigo, com este título, de grande interesse, sobre a questão do boicote contra as universidades de Israel, boicote votado por uma minúscula minoria dos universitários britânicos. Minúscula, sim. Constituida por elementos da esquerda bronca e dura, sim. Mas o boicote foi decidido em nome dos muitos milhares de sócios que não se deram ao trabalho de assistir à reunião. O artigo, escrito por dois professores de eminência incontestável, discute o que é o anti-semitismo hoje. Recomenda-se a leitura e recomenda-se também a cuidadosa leitura dos mais de cem comentários. Os comentários em jornais britânicos ‘de qualidade’ como o Telegraph e o Times são bastante elucidativos, não só pelas opiniões registadas.
O meu propósito aqui não é de tratar da questão substantiva. Já o tenho feito em outros lugares. Queria hoje falar na reflexão que me veio ao espírito ao ler esta matéria.
O que mais choca é o baixo nível tanto de raciocínio como de conhecimento histórico, sem falar dos erros gramaticais e ortográficos, de alguns dos leitores. Antigamente quem lia estes jornais era suposto ter um certo nível de cultura. Hoje, lamentavelmente, muitos são filisteus. Filisteus! Eis o ponto a que queria chegar. Esta expressão, antes bastante utilizada para classificar o vulgar, o inculto, o bruto e o ignorante, é menos empregada hoje. Talvez porque a vulgaridade, a incultura, a brutalidade e a ignorância são características tão generalizadas na nossa sociedade que deixaram de ser notadas e tornaram-se aceites. Mas, afinal, donde vem a expressão ‘filisteu’?
Quem conhece alguma coisa do Antigo Testamento sabe que houve um povo, supostamente vindo dos lados da Creta, que invadiu a costa do território que mais tarde veio a chamar-se Palestina, e entrou numa feroz luta contra os israelitas. A Bíblia descreve este povo, os filisteus, como rude, inculto e violento. Mais tarde os gregos transformaram o nome da terra invadida pelos filisteus em Palestina e os filisteus em palestinianos.
A má fama, porém, persistiu ao longo dos séculos e dos milénios. A palavra filisteu ficou no nosso vocabulãrio como ficaram vândalo, ou huno. Foi ressuscitada em meados do século XIX nas ‘culture wars’ da altura, principalmente entre universitários alemães. Nessa altura havia quem criticasse fervorosamente o avanço da ciência e da indústria como inimigas da alta cultura. A classe média em ascensão, a detestada burguesia, era vista como porta-bandeira da ofensiva anti-cultura. Empenhando-se na ciência e na indústria, os burgueses eram vistos como filisteus. A etiqueta ficou e durante a maior parte do século vinte, no mundo anglo-americano especialmente, os intelectuais, da esquerda ou da direita, habituaram-se a classificar os anti-intelectuais como filisteus.
Hoje o círculo fechou-se. Ligamos a televisão e lá estão eles, os filisteus de novo empenhados em pilhar e destruir. E os seus defensores, que não percebem nada do assunto, aí estão também alegremente a aplaudir.