Thursday, July 19, 2007

UM TSUNAMI LEVA SEMPRE LIXO À COSTA


Imaturidade e provincianismo

Depois de avisada por vários amigos da tal explosiva situação na blogosfera, resolvi ontem à noite pesquisar, pela primeira vez, o meu nome na máquina de procura do Google. Fiquei deveras impressionada. Primeiro, pela inesperada e gratuita publicidade aos meus blogues, favor que agradeço. Segundo pela singular imaturidade de muitos intervenientes no tal ‘caso explosivo’. Terceiro pelo marcado provincianismo manifestado. Então ficaram surpresos que uma pessoa da minha idade soubesse lidar com ‘a moderna tecnologia’? Não duvido que a informática seja uma novidade para essa gente. Mas é um bocadinho demais não saberem que já nos anos 70 havia aulas de Introdução à Informática nas escolas secundárias inglesas. Realmente não percebem que Portugal é um país ainda bastante atrasado. Se calhar pensam que foram os portugueses que inventaram o computador! Para a informação dessa gentinha, eu fui um dos professores dessas aulas. A única razão de aparecer tão tarde (2006) na blogosfera foi a falta da banda larga na zona da minha residência (outro atraso nacional!)

Os jovens, menos instruídos, sempre pensam que foram os primeiros a descobrir o mundo. Como o ensino da Aritmética e também da História é tão deficiente nos nossos dias, talvez fosse relevante recordar-lhes que os meus mais de 60 anos de vida adulta, representam mais 60 do que tem hoje uma pessoa com vinte anos; e três vezes mais do que têm de vida adulta uma pessoa com quarenta. Proporcionalmente mais, também, de livros lidos, de filmes vistos, de música ouvida e de pessoas conhecidas, etc. Portanto, era bom não tentarem ‘ensinar rezar o padre-nosso ao vigário’ ou, como dizem grosseiramente os americanos: ‘Don’t try to teach your grandmother to suck eggs!’

Para os idosos que viveram cortados do mundo real e da ‘seamy side of life’ talvez os anos não contam em matéria de experiência. Não foi o meu caso. Com 19 anos, como instrutora de recrutas na tropa inglesa, tive que examinar, por semana, quarenta cabeças e corpos para detectar as anoplura (pediculus humanus capitis phthirus pubis e pediculus humanus humanus, ) assim como possíveis sinais de doenças.

Os britânicos chamados ao serviço militar, nesses anos de guerra e de bombardeamentos, muitas vezes vinham de uma vida civil passada nos abrigos antiaéreos. Tal foi a destruição em Londres que centenas de milhares viviam nas estações do metro, situação que durou até alguns anos depois de acabar a guerra.

Essa vida de promiscuidade e falta de higiene teve as suas consequências: mais de 50 por cento das raparigas que chegavam da vida civil aos quartéis estavam infestadas com os diversos tipos de piolhos. Com os jovens homens britânicos ausentes e a passagem pela Grã-Bretanha de quatro milhões de americanos e canadianos, também jovens e longe das suas terras, era uma primeira necessidade informar a população dos problemas sanitários e os riscos dos contactos sexuais promíscuos. Assim, com essa tenra idade eu tive que frequentar cursos na matéria e transmitir os meus conhecimentos às recrutas.

Conto estes pormenores do meu currículo para elucidar esses idiotas e malcriados que pensavam chocar uma qualquer senhora dondoca com as grosserias de costume. O propósito não foi atingido. Linguagem ordinária não é o monopólio dos portugueses. E as gargalhadas porcinas de adolescentes imbecis também encontrei em outras paragens.

Uma nota especial para as senhoras com gostos exóticos que também se manifestaram na recente polémica: naturalmente havia também dessas na tropa feminina e eu, pela forçada convivência com elas, aprendi a ter alguma pena da sua deficiência. Isto é, pena, enquanto não tentassem aliciar as mais desprotegidas.