Monday, September 18, 2006

Causa Liberal

Causa Liberal

WHEN THE POT CALLS THE KETTLE BLACK: A response from the kettle

Como a metodologia de debate público tem muito a ver com comportamentos e princípios liberais eu estou convencida, ao contrário de CN, que é precisamente este blog um dos lugares mais aprópriados onde discutir este assunto..

Desde das minhas primeiras participações neste maravilhoso mundo do Blog, decidi não ceder às provocações de determinado tipo de comentárista. Não aceito debates que principiam com insinuações, argumentos ad hominem, falácias genéticas, a falácia do homem de palha e outros truques de má fé. Digo má fé porque, naturalmente, não posso neste caso atribuí-los à ignorância. Quando CN screveu o seu primeiro comentário sobre palavras minhas entrou logo a matar (e sem me conhecer de parte nenhuma) com o seu habitual sarcasmo e a presunçao (falsa) que eu tieria determinadas posições que ele confessadamente detesta. Apesar do meu silêncio persistiu no mesmo estilo. E assim continua até hoje alegando ou insinuando que eu apoio os chamados neo-conservadores, que Churchill e Thatcher são os meus herois e por aí adiante. Os “neo-conservadores” parecem ser uma verdadeira obsessão de CN. Saberá ele que a própria expressão é, de facto, uma invenção da esquerda e um dos epítetos favoritos dessa gente? Aliás outras obsessões são Churchill, Thatcher e o “erro” de classificar os terroristas islâmicos como islamo-fascistas. Estas também, tal como o ódio a Bush, são mesmo obsessões da esquerda. Não estou a insinuar nada. Estou a afirmar, sem receio de contradição, que grande parte das atitudes políticas de CN não são atitudes de um liberal, mas sim atitudes típicas da Extrema Esquerda. Sei do que falo: catortorze anos de miliância comunista ensinou-me alguma coisa.Falo, evidentemente, das atitudes políticas e não das económicas. Assim entende-se as simpatias de CN por AJP Taylor.

Resolvi a semana passada quebrar o meu silêncio e escrever sobre o Taylor por julgar necessário explicar aos portugueses (tantas vezes ludibriados pelo brilho falso da imprensa estrangeira) quem foi essa figura que eu conheci de nome e reputação quase toda a minha vida adulta. Agradeço ao CN por ter pegado no assunto. Talvez agora, devido também aos extractos da Wikipedia (seleccionados por ele) ao menos algumas pessoas irão ler o artigo completo da Wiki. E agora algumas palavras que julgo pertinentes sobre metodologia.

1º McCarthyismo. Embora entendido como insulto, eu pessoalmente não o considero como tal. O senador americano tinha modos desagradáveis, mas o facto é que a grande maioria das pessoas chamadas a testemunhar perante a sua comissão eram, sim, comunistas. Este facto é agora reconhecido por todos menos a esquerda. Até chegei a conhecer pessoalmente alguns deles. É evidente que para um liberal a própria ideia de uma comissão de inquérito sobre as opiniões políticas das pessoas é repugnante. Todavia temos que recordar a época: o começo da Guerra Fria e o desmascaramento dos espiões atómicos soviéticos. Tal como hoje com o problema actual do terrorismo. temos que nos lembrar que o primeiro dever do Estado é o de proteger os cidadãos. Há males menores. Coisa que alguns libertários e todos os pacifistas esquecem.
2. Falácias de raciocínio. Talvez não seja relevante referir as suas posiçóes políticas para avaliar as competências de um biólogo, um médico ou outro perito em ciências naturais. No caso de um especialista em História Política é certamente relevante conhecer as suas posições políticas. Quando estudo a história social e política é para mim importante saber que tanto Eric Hiobsbawm quanto Christopher Hill foram membros activos do PC britânico. Como é para mim relevante que Taylor até o fim da vida simpatizou com a URSS e considerou Lenine o seu principal heroi. Aliás as atitudes de Taylor referidas no meu artigo não são da sua vida particular. Pelo contrário, foram posições públicas, posições que ele nunca escondeu e que sempre invocou, até o ponto de alguns suspeitarem que ele assim fez com o intúito de aumentar a sua notoriedade e, por conseguinte, os seus rendimentos como publicista. Se eu tivesse repetido essas suspeitas sem mais nem menos, entáo aí sim, estaria a fzer um processo de intenções e usar de um argumento ad hominem. Agora estou a repeti-los não por assim pensar, mas para exemplificar o que seria realmente um argumento ad hominem.

Assim, (atenção também LAS) eu não estava a praticar nem o McCarthyismo, nem utilizar argumentos ad hominem quando chamei atenção para as posições políticas de Taylor, relevantes repito, para qualquer avaliação das suas interpretaçóes históricas.

Finalmente, acho importante em qualquer discussão política conhecer as fontes de informação dos nossos interlocutores. Se eu fosse convidada a discutir, por exemplo, os argumento económicos contra o socialismo acharia relevante que soubesse à partida que o meu interlocutor apoiava as ideias expressas em Das Kapital. Assim daria o relevo apropriado a determinados pontos. Até aí tudo bem. Se soubesse que o interlocutor também costumava usar os conhecidos truques de retórica em vez de argumentos substantivos então nesse caso recusava a minha participação.

Assim aconteceu com o caso de CN. Tenho idade, experiência e leitura suficientes para reconhecer as fontes dos seus argumentos. Também idade e experiência suficientes para não querer gastar tempo com refutações e contra-refutações fúteis. Por princípio não costumo usar a arma da insinuação nem de argumentar a respeito de milhentas citações de autores que todos podemos facilmente consultar.

Por isso acho que, tal como no caso de AJP Taylor, seria proveitoso para o esclarecimento de todos, referir outras fontes do pensamento político de CN, tais como Patrick Buchanan, Lew Rockwell, Hans Herman Hoppe, Justin Raimundo e outros heterodoxos da “Far Right” americana que andam a enganar alguns liberais. Razão: a estranha coincidência do pensamento dessas figuras (e aparentemente de CN) tanto com o pensamento da extrema esquerda como o da exrema direita. Certos sectores do palaeo-conservadorismo americano constituem realmente, como diz Tom Palmer do Cato Institute, um “fever swamp”, um pàntano febril, para os europeus ingénuos que nunca sonharam com a existência de tais fantasistas.


Para a elucidação de CN e ajudá-lo a evitar mais um desparate, só um último reparo.. Sugerir que Taylor não podia ser germanófobo porque se dedicou ao estudo dos seus queridos Habsburgos indica desconhecimento dos usos académicos no mundo anglófono. Os britânicos cultos sempre fizeram uma rigorosa distinção entre germânicos e austríacos, tal como a fazem os austriacos eles próprios. Toda a gente no Reino Unido sabe que nem todos que falam alemão são alemães: alguns são suiços, outros austriacos. È como tentar provar que alguém não podia detestar os brasileiros porque gosta dos portugueses. Igualmente para os ingleses e os americanos. Aliás, Taylor fez toda uma teorização sobre o assunto e a natureza inerentemente bélica das antigas tribos alemãs, atitude que lhe custou muitas amizades na universidade.

Não pensem os meus críticos que é agora que vou ceder às provocações e entrar numa discussão sobre os desméritos intelectuais dos habitantes do tal pântano. Não tenho nem tempo nem disposição para isso. O que irei fazer, dentro em breve, é indicar alguns locais na Internet de fácil acesso. Assim poderão os interessados tirar as suas próprias conclusões e revelá-las nestas colunas.